quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Conexão à quente


Vocês, jovens felizardos que entram agora no mundo da informática, nem sequer imaginam as vicissitudes que nós, dinossauros da computação, experimentamos um dia. Tanto que, além de achar natural conectar um novo dispositivo ao computador sem desligá-lo, reclamam quando o micro demora um pouco a reconhecê-lo e, se for o caso, instalar os drivers necessários.

Pois saibam que isso não somente é coisa relativamente nova como também é fruto da conjugação de algumas tecnologias cabeludíssimas. Porque nos tempos d’antanho, para começar, era preciso desligar o computador antes de conectar a ele qualquer coisa, fosse lá o que fosse. Depois, devia-se efetuar manualmente a configuração, tanto do hardware (geralmente por meio do ajuste de jumpers) quanto do software. O que incluía não apenas a instalação de todos os drivers necessários como também o ajuste dos malfadados recursos do sistema. Tarefa similar a um quebra-cabeças, de solução difícil, quando não impossível: havia casos em que era preciso remover um periférico para instalar outro, já que os tais recursos eram lamentavelmente escassos.

Agora tudo é fácil. Assim que o dispositivo é reconhecido, os recursos são ajustados pelo próprio sistema, sem qualquer intervenção do usuário. Tal reconhecimento se deve a uma tecnologia denominada plug-and-play (que, mal traduzindo, significa algo como encaixe e use), incorporada tanto ao sistema operacional quanto a cada dispositivo concebido para se comunicar com um PC. E tudo isso sem desligar o micro.

É esta última parte a mais interessante. Ela recebeu o nome de conexão à quente (em inglês, hot swapping, mais apropriadamente traduzida por troca à quente). Antes que ela se disseminasse, para efetuar a conexão ou desconexão de um componente, o computador tinha que ser desligado. Isso porque as conexões entre componentes transportam pulsos elétricos, alguns de tensão relativamente alta, que são processados por circuitos eletrônicos extremamente delicados. Alimentar certos pontos destes circuitos antes dos demais e, sobretudo, sem um “aterramento” adequado, era desastre certo, circuito queimado e prejuízo garantido. Por isso é essencial que, antes que qualquer pino ou encaixe do circuito receba qualquer tensão, os pinos correspondentes à “terra” já estejam conectados.

A questão foi resolvida projetando conectores tais que os pontos a serem conectados antes dos demais, como os do aterramento, tenham os pinos ou listras metálicas mais protuberantes, garantindo que se encontrarão primeiro (há, naturalmente, outros fatores envolvidos, mas este é o que efetivamente resolve o problema).É por isso que se pode conectar um pen-drive ao computador e, depois de alguns segundos, começar a ler e gravar dados nele. O que vale igualmente para todos os periféricos modernos, aderentes aos padrões USB e Firewire, que aceitam a conexão à quente. Assim como o padrão eSATA (de “external SATA”) para discos rígidos externos tipo SATA, que em breve se disseminará. E aderem igualmente ao padrão plug-and-play, que permite que, tão logo conectados, sejam examinados pelo sistema operacional que tomará as devidas providências para configurá-los.

Mas, se hoje em dia quase todo periférico é assim, por que perder tempo com este assunto agora? Bem, o problema está no “quase”. Porque, embora raros, ainda se encontram por aí dispositivos que se conectam às portas paralelas ou seriais. E estes, mesmo os que são plug-and-play, não admitem conexão à quente. Portanto, se um dia você topar com um deles, não se esqueça de desligar o micro antes de conectá-lo.



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